O PAPA-IMPERADOR
Segundo o Bolsonaro filho que está nos Estados Unidos trabalhando para prejudicar o Brasil ao invés de estar na Câmara dos Deputados defendendo o povo que o elegeu e lhe paga um salário polpudo, não haverá eleições em 2026 se seu pai, Jair Messias Bolsonaro, não puder concorrer. E se houver, se Donald Trump não gostar do resultado, não vai reconhecer. Inacreditável, mas tem gente que apoia tamanha sandice e até acha que o nosso moderno Silvério dos Reis está fazendo um bem para o país.
A nós, o que parece é que estamos voltando à Idade Média, quando a coroação de um rei, nos países cristãos, precisava ser referendada por um Papa-Imperador. Os reis que não se submetessem á esse referendo eram excomungados e tratados como párias no estratificado e sinistro mundo da política medieval, dominado pela arrogância tirânica dos “land-lords” e pela cupidez dos prelados da Igreja Católica.
É o fim da picada, mas temos de fato um novo Papa-Imperador. Ele decide quem pode fazer guerra e quem deve aceitar, sem discutir, a paz. Já decidiu que os palestinos não têm direito a um estado próprio e devem desocupar a Faixa de Gaza para que os investidores americanos – a maioria certamente de origem judaica- possam construir lá um resort de luxo. Também já decidiu que vacina é inútil para evitar doenças e que o povo americano não deve ser vacinado. Já vimos esse filme sendo passado por aqui. Custou-nos mais de oitocentas mil vidas, mas não foi suficiente para abrir os olhos de uma grande parte da nossa população que concorda com essa insanidade.
Donald Trump é um líder carismático que combina, em sua forma de fazer política, métodos da Máfia com estratégias da Ku Klux Klan para intimidar seus adversários. Lembra o personagem Don Corleone do romance do Mário Puzzo (retratado no filme o Poderoso Chefão), que negociava oferecendo aos adversários uma “proposta irrecusável”, do tipo “aceita ou morre”. Só falta agora os seus desafetos acordarem pela manhã com a visão de uma cruz queimando em frente às suas casas, como fazem, ainda hoje, alguns egressos da Ku Klux Klan, para defender as suas ideias de supremacia branca.
O pior disso tudo é que tem gente que concorda e até acha que ele está fazendo algum bem para nós e para o resto do mundo com a sua tirania autocrática. Isso até dá para entender. Freud explica. Quando o nosso cérebro está abotoado na camisa de força de uma crença estereotipada, ele tende a cancelar e distorcer qualquer informação que contradiga as suas crenças. Nada o convence do contrário mesmo que os fatos mostrem, de forma clara e insofismável, que ele está equivocado. É uma proteção que nosso cérebro nos dá porque, em certos casos - e política é um deles- admitir o erro dói mais do que conviver com ele. É a Síndrome do Corno, que leva o indivíduo a aceitar a mentira e a traição do parceiro porque o rompimento, puro e simples da relação, seria mais dolorido.
Um dos princípios da Máfia é o de que a família é mais importante do que tudo, inclusive o próprio país. É a chamada “cosa nostra”. Eduardo Bolsonaro está praticando bem esse princípio. Dane-se o Brasil. Só importa livrar o seu pai das garras do STF. Nem que para isso tenha que ver o seu país se tornar vassalo do novo Papa-Imperador.